quinta-feira, 25 de março de 2010

a morte do poeta

o poeta quis morrer assim: o quarto a cama
paredes e teto
janelas cerradas
figuras retangulares
definitivamente completas
precisas
como é precisa e completa
a morte que avança

sem pressa
como queda a folha seca
a morte desce
e ronda frangalhos de carne estirados
no lençol encharcado de escarro e de fezes
(e algumas lágrimas, sim)

as mãos há muito caídas
hão de deixar sobrar um gesto
quando for a hora
que não será prece
nem imprecação
quem sabe adeus
(a quem?)

nenhuma mosca vem e voa
ou pousa sobre o velho pó da mobília
silêncio!
o poeta quis morrer assim

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