quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Vida: Anônimo Ato (um poema simples e alguns belíssimos e generosos comentários a respeito dele)

Nunca ansiei por grandes feitos
notabilidade e reconhecimento
ou por ser exemplo de vivente
entre os homens do meu tempo

eu só quis um livre trânsito
pelos calçadões dessas ruas
bom dia boa tarde como vai
apenas um transeunte a mais

um bom livro debaixo do braço
e outros tantos na imaginação
um sorvete e um riso na boca
um bom gesto na palma da mão

só quis mesmo é ter a virtude
de ser um homem simples e bom
de quem não necessariamente
todos digam "ele é um homem bom"

mas por quem o menino que passa
dá-lhe "oi" sem medo ou admiração
e vai seguindo a sua bela fantasia
de um dia também ser homem bom

Assim passar... assim levar minha vida
sequer ser recordado após a partida
ter somente sobre o túmulo esquecido
uma pequena pedra e mínima inscrição

Ao redor crescerão plantas e flores livres
não quero saber de ninguém a pisá-las
cantarão os passarinhos alegres e livres
que não me venha ninguém espantá-los...



A seguir, alguns comentários feitos pelos amigos do blog Verso & Prosa:
Comentário de A. Zarfeg em 4 dezembro 2009 às 15:57
Um belo retrato do cidadão comum, bom e honrado. Sobretudo honrado. Forte abraço, Darci. Até mais ver.
Comentário de Eduardo Ramos em 4 dezembro 2009 às 16:01
Concordo com o A.Z., totalmente - e nin guém precisa ser mais do que isso... - rs - abração, Darci!
Comentário de José Aurélio Luz em 4 dezembro 2009 às 21:27
Caro conterrâneo: incrivelmente poucos se dão conta da bendita dádiva do anonimato, de podermos chutar tampinhas de garrafa ao cruzar pela calçada de um boteco, sorrirmos para as núvens e para o vira-latas, se nos der na telha. Seu desiderato é puro Epicuro, no que ele tem de mais salutar: viver a vida com proveito e sem aquilo que o velho bardo português bem colocou: "ó sede de mandar, ó vã cobiça/ desta vaidade a quem chamamos fama!". Abraço, j.a.
Comentário de EDILOY ANTONIO CARLOS FERRARO em 5 dezembro 2009 às 12:04
...que ternura de versejar, que beleza n'alma inspira este quase epitáfio, singelo e calmo, manso como a sabedoria do vivente despojado de falsas alegorias e fetiches, que a vida nos seja plácida, tranquila como uma doce travessia.... prazer em usufruir de tua inspiração nesta manhã chuvosa, abçs !
Comentário de Mônica em 5 dezembro 2009 às 13:34
Oi Darci!
....estou arrepiada...quanta delicadeza...ternura...emocionante! Poeta, este é o verdadeiro retrato da vida, tenhamos fama ou não...quiça todos possamos captar a grandeza das coisas simples...seja lá em que momento for!
Um adendo: as respostas dos demais queridíssimos poetas também são riquíssima fonte de inspiração da eterna aprendiz aqui...a sede não cessa!
Um ótimo final de semana a todos!
Comentário de José Aurélio Luz em 6 dezembro 2009 às 21:38
Caro Darci: por tocar nos desdobramentos políticos e filosoficos, é sempre bom lembrar o caso do Diógenes: há mais rebeldia revolucionária que ser um zé-ninguém, adotar como lar um tonel próximo ao porto de Atenas?
E o seu desdém da fama pode ser conferido por aquela sua alegada e famosa interação com Alexandre da Macedônia, o Magno, referida por Plutarco. Tendo o último se acercado do filósofo, que tomava sol, imodestamente teria lhe dito: “Sou Alexandre, o conquistador. Peça-me o que quiser". Ao que Diógenes de Sinope replicou: "Sim, não te interponhas entre mim e o meu sol". Abraço do j.a.
Comentário de Margarida em 17 dezembro 2009 às 15:59
tão simples,tão sábio, tão corajoso
o humilde é grandioso...
só me confirma a certeza de que:
há flores no caminho
um abraço
com a adesão da
margarida
Comentário de Gilberto Brandão Marcon em 20 dezembro 2009 às 15:58
Caro Amigo, seus versos são um exercício suave da verdadeira humildade, algo tão difícil de aprender por conta dos impulsos do ego. Versos onde unem-se sabedoria humana com o conhecimento da alma. Parabéns!
Comentário de Marise Lopes em 12 janeiro 2010 às 20:08
Darci... trouxestes cor, delicadeza, beleza para esse cotidiano, que por vezes parece tão ínfimo, morno, sem graça, que tecemos todos os dias...
Comentário de DARCI BORGES em 5 dezembro 2009 às 0:48
Amigos, muito obrigado pelos comentários tão gentis! Levando-se em conta que não há poesia só pela poesia, não quero deixar aqui assinado um atestado de alienação política ou filosófica sobre a conduta do ser humano.

Acho que existe um quê de ironia nessa pacatez que envolve o meu protagonista, tão falsamente linear. Ou será que não daria para se vislumbrar nele uma certa rebeldia em relação ao "status quo" vigente, um revolucionário feliz, o mais autêntico o possível, quase às avessas, peça e corpo estranhos da convencional engrenagem?

Abraços a todos!...

2 comentários:

  1. Poema consciente da realidade que somos,somente parte de um todo,nem um é mais ou menos, somos todos iguais.A foto inlustra bem,nenhum pássaro nenhuma árvore quer ser mais reconhecida do que a outra. A natureza é nosso mestre, sábia e visível.
    nilma

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  2. http://dinaaciganinha.blogspot.com5 de março de 2010 às 10:19

    Belo exemplo Darci!!
    Enquantos tantos primam pela evidência, vc esbanja simplicidade!
    Ter a felicidade de ir e vir sem ser molestado e poder desfrutar de uma vida sem máscaras!

    Parabéns nobre poeta, Darci

    bjs no teu coração@!

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